terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Aventureiro Canino – um herói, a heroína


Aventureiro Canino – um herói, a heroína.




- Gabriel, Gabri-ééél! – A mãe de Zébiel o chamou. Ele mastigava seu pão de forma desinteressada, alheio a tudo a sua volta.
- Oi? – Respondeu voltando de sua longa viagem pensativa.
- Biel, o que está acontecendo com você hoje?
- Co-comigo? – Zébiel sentiu o rosto corar.
Pelo visto você deve estar tão curioso quanto eu em saber como Zébiel vai lidar com essa novidade. Como iria dizer para os pais o que estava acontecendo? Ele tinha certeza que iriam rir e dizer que criança tinha muita criatividade. E, convenhamos, é verdade! Criança, realmente, tem muita criatividade. Mas, agora era diferente, com certeza!
E era muita coisa para uma cabecinha de 9 anos lidar sozinha. Não sei se vocês sabem, mas os adultos dizem que tem uma fase muito complicada nas nossas vidas chamada de puberdade. É difícil para os adolescentes e muito difícil para os pais. Dizem que essa fase é difícil, pois há muitas mudanças que acontecem de forma muito rápida e é meio complicado lidar com isso tudo.
Mas imagine ter que lidar ser mordido por uma pulga radioativa e, de uma hora para outra, começar a ouvir os pensamentos do seu cachorro. Não é fácil.
- Sim, meu filho, estou falando com você. Por acaso tem outra pessoa aqui olhando para o pão por mais de dez minutos? – Olhou para o pão como se finalmente percebesse a presença do alimento.
- Nada não, mãe. É que estou muito cansado – respondeu, arqueando os ombros, com aquele jeito manhoso que criança faz na presença da mãe – acho que é melhor não ir para escola hoje.
- Nada disso! Você sabe o que seu pai sempre diz.
- Sei – Zébiel entortou a boca com chateação, respondendo com voz melosa – Que minha obrigação é estudar... Mas, mãe, estudar é muito chato e hoje eu não estou me sentindo bem.
- O que você está sentindo? – ela perguntou aflita, correndo para perto dele e já pondo a mão na testa para sentir a temperatura.
- Eu conheço esse jeito dela, eu conheço. Ela está com aquele cheiro diferente, quando começa a suar muito. Sim, ela vai entupir você com aqueles líquidos de cheiro estranho e que você detesta. Como você chama mesmo? Repédio... não verdio... não... hum, já sei, remédio –Rex empurrou a cabeça contra a perna de José Gabriel para chamar sua atenção.
Zébiel ainda não havia se acostumado com a idéia de ouvir seu cachorro. Para falar a verdade, eu acho que nunca me acostumaria. Sabe-se lá o que se passa na cabeça se um cachorrinho. As vezes já é de enlouquecer ouvi-los latir sem parar, imagine passar a ouvir o que eles pensam também. De qualquer forma, dessa vez, pela primeira vez Gabriel começou a achar interessante. Rex estava certo! A mãe havia entrado no modo mãe-superprotetora-louca que não deixaria ele em paz. Faria um milhão de perguntas e ele teria que tomar mil remédios de gosto ruins.
- É que eu dormi mal – mentiu de forma inocente.
- Como assim? Teve algum pesadelo? Diz para mamãe – Envolveu o menino num abraço forte.
- Não, mãe! – Ele a afastou resoluto. Não gostava que ela o tratasse feito criança. Só quando ele se sentia muito criança – Nada não. Tenho que ir para a escola, senão vou chegar atrasado.
- Mas você não estava se sentindo mal?
- Já passou...
- Estava só querendo um carinho da mamãe, não é? – Ela sorriu e deu um beijo na bochecha dele.
- Para de me tratar feito criança, mãe. Eu já sou um rapaz – Esfregou a bochecha.
- Eu conheço esse cheiro! Ela está feliz, está sim! Igual aquele dia que você disse que o bolo que ela fez estava uma delícia. Mas estava ruim, muito ruim. O cheiro era ruim. E o gosto, não tive coragem canina o suficiente para provar. Ah, mas ela estava feliz, estava sim. Parece que as mães ficam felizes quando os filhos dizem que gostam do que elas fazem. Mas eu não entendo. Por que ela está feliz agora?
- Eu não sei – Zébiel pensou em resposta.
- Mãe, você está feliz? – perguntou inseguro.
- Sim, meu filho – respondeu sorrindo.
- Por que?
- Fico feliz de ver que você está crescendo.
Gabriel não entendeu bem a resposta. Afinal, ele sempre ouviu que estava crescendo. Se ele sempre crescia era para ela estar sempre feliz. E não era bem assim. Havia vezes que ela ficava bem brava. Até mais que o pai dele. E o pai quando ficava bravo era muito bravo!
Mas, o mais importante é que ele percebeu que Rex sabia de coisas que jamais imaginou que seu cachorrinho soubesse. Parecia que tinha um nariz mágico, com poderes que ele não conhecia. Se sentiu como se fosse um super-herói. O que mais eles ainda iriam descobrir?


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