Voltamos
a nossa historinha com José Gabriel indo para a escola depois de se despedir de
seu amigo canino. Não sei você, mas tem algumas crianças que adoram a escola,
enquanto outras detestam. A escola é um lugar especial no qual podemos fazer
muitos amigos, mas também é um ambiente em que aprendemos muitas coisas,
principalmente a ter responsabilidade. Talvez essa seja a grande diferença
entre adultos e crianças: a responsabilidade. O problema é que o adulto acaba
tendo tantas responsabilidades e se preocupando tanto com elas que acaba
esquecendo como era ser criança.
É por isso que é tão bom quando
estamos com nossos avós. Sem a responsabilidade de educar os netos e com uma
experiência especial, chamada de sabedoria, quando estão com seu netinho ou
netinha eles se permitem ser crianças novamente.
Você deve estar se perguntando, o
que isso tem a ver com a historinha do aventureiro canino? Bem, você verá...
O ônibus havia acabado de chegar à
parada em frente à escola. Mas, quando José Gabriel desceu, você não vai
acreditar! Ele foi recepcionado por Robertinho, o garoto mais encrenqueiro da
escola. Se existia uma pessoa naquela escola que todos procuravam evitar era
esse garoto. Ele, apesar de muito chato, era também extremamente popular. Não
pense que essa popularidade fosse porque gostassem de sua companhia. Não, não
era. Na verdade, ele tinha uma grande habilidade em intimidar as pessoas.
Então, ele exercia uma liderança pelo temor e não por seu carisma.
Pelo seu olhar de interrogação
acredito que você não saiba o que é carisma. Acertei? Bem, carisma é um dom que
algumas pessoas têm de influenciar e gerar a admiração nas pessoas à sua volta.
Sabe aquele coleguinha que é bem legal, divertido ou muito inteligente que todo
mundo quer estar perto? Bem, esse é uma pessoa carismática.
Mas, vamos voltar à historinha...
Bem, quando Gabriel entrou na escola, estava
tão avoado, perdido nos próprios pensamentos, que não percebeu que Robertinho
estava próximo. Uma vez Zébiel quase havia sido vítima das “brincadeiras” do
brigão, mas conseguiu escapar graças ao relógio da escola que tocou sinalizando
que a aula havia começado. Os adultos que adoram um ditado, diriam que ele foi
“salvo pelo gongo”. Desde então ele tem tentado não ficar ao alcance de
Robertinho.
- Vejam só quem está por aqui – O
brigão deu um tapinha no ombro do colega para chamar sua atenção.
- Sim, Robertinho, é o tal do
Zébiel, que disse um dia desses que havia comido todo o lanche e que não tinha
nada para dar para gente – Robertinho olhou feio para ele – Quer dizer, para
você, ele não tinha nada para dar para você.
- É verdade, Carlinhos. Como esse
Zébiel pode ser tão egoísta? Aquele dia o sinal tocou e não pude verificar se o
que dizia era verdade e mostrar como aquelas palavras me magoaram. Todos sabem
que não gosto de ficar magoado – Robertinho coçou o punho fechado,
ameaçadoramente - Bem, hoje vai ser diferente, não é?
As crianças riram. José Gabriel
sentiu o coração bater acelerado quando sentiu a mão pesada de Robertinho sobre
seu ombro.
Você deve estar se questionando
que seria muito fácil entregar seu lanche e se livrar de qualquer surra que
pudesse haver. Mas não pense que seria assim tão fácil. Uma vez que Robertinho
conseguisse o lanche de Zébiel ele iria atrás dele todos os dias para conseguir
o “compartilhamento de lanches”. Além disso, depois de tudo o que aconteceu com
nosso amiguinho, você pode não acreditar, mas ele havia esquecido de guardar na
mochila, o sanduiche feito por sua mãe.
A coisa estava feia, bem feia!
- O-oi Ro-ro-bertinho.
- Então, moleque, cadê o meu
lanche? Vai me dizer que comeu e esqueceu de mim, novamente?
- Bem – Zébiel sentiu o estômago
embrulhar – eu, eu, esqueci de trazer...
- Está achando que eu tenho cara
de bobo?!
- Robertinho, acho que ele está
querendo fazer você de bobo – Um garoto da turma falou.
Zébiel estava com medo. Quem não
estaria? Ficar na mira do maior encrenqueiro da escola não é algo que alguém
gostaria de ficar. E o brigão era alto e forte. Era da turma do caratê da
escola e, por conta disso, se achava o máximo. Vez ou outra as crianças o viam
no intervalo demonstrando os golpes aprendidos.
Bem que o sinal para começar a
aula podia tocar mais uma vez... só que não! Ainda faltava 15 minutos. Tempo
suficiente para nosso amiguinho ficar bem machucado. Eu gostaria muito de pular
essa parte da história, mas não posso fazer isso com você. Então, deixe eu
respirar fundo e rezar para que tudo ocorra bem com Zébiel.
Bem, tudo aconteceu muito rápido,
pelo menos aos olhos daqueles que observavam a cena. Para José Gabriel, durou
uma eternidade. Após revirar a mochila do nosso amiguinho, Robertinho verificou
que Zébiel não mentira. Acredito que sua vontade seria deixar por isso mesmo,
dar uma advertência e um empurrão, mas, inflado pelas palavras dos outros
garotos de sua turma ele resolveu não deixar barato.
O soco voou em direção ao rosto
de Gabriel, potente e certeiro. Um grito ecoou pelo corredor, seguido de um
choro vibrante. Todos olhavam atônitos a cena. Robertinho dobrado sobre sua mão
que sangrava e as lágrimas abundantes escorrendo-lhe pelo rosto.
Se você está confuso, confesso
que eu também. Por um deslize de minha parte e por ter me afeiçoado ao nosso
amiguinho, na hora fechei os olhos e não vi bem o que aconteceu. Mas, como
narrador dessa história, apesar de não poder modifica-la, pois o criador dela
não me permitiu, posso voltar no tempo para rever a cena e contar a você o que
exatamente aconteceu. E ficarei mais tranquilo dessa vez, pois, percebo que
Zébiel estava bem, apesar de muito assustado.
Robertinho lançou o golpe e,
aparentemente acertou Zébiel... bem, espere um pouco, deixe eu voltar o tempo
novamente, um pouquinho mais lento, não acredito! Nosso amiguinho desviou do
golpe e o brigão acertou a parede de cimento atrás e cortou a mão. Meus anos de
narrador também me dizem que ele quebrou a mão.
Eu sei que não é algo bonito,
ficar feliz por ver alguém se machucar, mas, confesso, que não posso deixar de
sorrir. Zébiel escapou do soco com uma agilidade incrível. Uma velocidade que
eu nunca havia visto antes.
Depois dessa experiência posso
dizer a você que nesse momento nasceu o aventureiro canino. O que será que
espera para o nosso amiguinho?