sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Aventureiro Canino – Lágrimas


          

          Voltamos a nossa historinha com José Gabriel indo para a escola depois de se despedir de seu amigo canino. Não sei você, mas tem algumas crianças que adoram a escola, enquanto outras detestam. A escola é um lugar especial no qual podemos fazer muitos amigos, mas também é um ambiente em que aprendemos muitas coisas, principalmente a ter responsabilidade. Talvez essa seja a grande diferença entre adultos e crianças: a responsabilidade. O problema é que o adulto acaba tendo tantas responsabilidades e se preocupando tanto com elas que acaba esquecendo como era ser criança.
É por isso que é tão bom quando estamos com nossos avós. Sem a responsabilidade de educar os netos e com uma experiência especial, chamada de sabedoria, quando estão com seu netinho ou netinha eles se permitem ser crianças novamente.
Você deve estar se perguntando, o que isso tem a ver com a historinha do aventureiro canino? Bem, você verá...
O ônibus havia acabado de chegar à parada em frente à escola. Mas, quando José Gabriel desceu, você não vai acreditar! Ele foi recepcionado por Robertinho, o garoto mais encrenqueiro da escola. Se existia uma pessoa naquela escola que todos procuravam evitar era esse garoto. Ele, apesar de muito chato, era também extremamente popular. Não pense que essa popularidade fosse porque gostassem de sua companhia. Não, não era. Na verdade, ele tinha uma grande habilidade em intimidar as pessoas. Então, ele exercia uma liderança pelo temor e não por seu carisma.
Pelo seu olhar de interrogação acredito que você não saiba o que é carisma. Acertei? Bem, carisma é um dom que algumas pessoas têm de influenciar e gerar a admiração nas pessoas à sua volta. Sabe aquele coleguinha que é bem legal, divertido ou muito inteligente que todo mundo quer estar perto? Bem, esse é uma pessoa carismática.
Mas, vamos voltar à historinha...
 Bem, quando Gabriel entrou na escola, estava tão avoado, perdido nos próprios pensamentos, que não percebeu que Robertinho estava próximo. Uma vez Zébiel quase havia sido vítima das “brincadeiras” do brigão, mas conseguiu escapar graças ao relógio da escola que tocou sinalizando que a aula havia começado. Os adultos que adoram um ditado, diriam que ele foi “salvo pelo gongo”. Desde então ele tem tentado não ficar ao alcance de Robertinho.
- Vejam só quem está por aqui – O brigão deu um tapinha no ombro do colega para chamar sua atenção.
- Sim, Robertinho, é o tal do Zébiel, que disse um dia desses que havia comido todo o lanche e que não tinha nada para dar para gente – Robertinho olhou feio para ele – Quer dizer, para você, ele não tinha nada para dar para você.
- É verdade, Carlinhos. Como esse Zébiel pode ser tão egoísta? Aquele dia o sinal tocou e não pude verificar se o que dizia era verdade e mostrar como aquelas palavras me magoaram. Todos sabem que não gosto de ficar magoado – Robertinho coçou o punho fechado, ameaçadoramente - Bem, hoje vai ser diferente, não é?
As crianças riram. José Gabriel sentiu o coração bater acelerado quando sentiu a mão pesada de Robertinho sobre seu ombro.
Você deve estar se questionando que seria muito fácil entregar seu lanche e se livrar de qualquer surra que pudesse haver. Mas não pense que seria assim tão fácil. Uma vez que Robertinho conseguisse o lanche de Zébiel ele iria atrás dele todos os dias para conseguir o “compartilhamento de lanches”. Além disso, depois de tudo o que aconteceu com nosso amiguinho, você pode não acreditar, mas ele havia esquecido de guardar na mochila, o sanduiche feito por sua mãe.
A coisa estava feia, bem feia!
- O-oi Ro-ro-bertinho.
- Então, moleque, cadê o meu lanche? Vai me dizer que comeu e esqueceu de mim, novamente?
- Bem – Zébiel sentiu o estômago embrulhar – eu, eu, esqueci de trazer...
- Está achando que eu tenho cara de bobo?!
- Robertinho, acho que ele está querendo fazer você de bobo – Um garoto da turma falou.
Zébiel estava com medo. Quem não estaria? Ficar na mira do maior encrenqueiro da escola não é algo que alguém gostaria de ficar. E o brigão era alto e forte. Era da turma do caratê da escola e, por conta disso, se achava o máximo. Vez ou outra as crianças o viam no intervalo demonstrando os golpes aprendidos.
Bem que o sinal para começar a aula podia tocar mais uma vez... só que não! Ainda faltava 15 minutos. Tempo suficiente para nosso amiguinho ficar bem machucado. Eu gostaria muito de pular essa parte da história, mas não posso fazer isso com você. Então, deixe eu respirar fundo e rezar para que tudo ocorra bem com Zébiel.
Bem, tudo aconteceu muito rápido, pelo menos aos olhos daqueles que observavam a cena. Para José Gabriel, durou uma eternidade. Após revirar a mochila do nosso amiguinho, Robertinho verificou que Zébiel não mentira. Acredito que sua vontade seria deixar por isso mesmo, dar uma advertência e um empurrão, mas, inflado pelas palavras dos outros garotos de sua turma ele resolveu não deixar barato.
O soco voou em direção ao rosto de Gabriel, potente e certeiro. Um grito ecoou pelo corredor, seguido de um choro vibrante. Todos olhavam atônitos a cena. Robertinho dobrado sobre sua mão que sangrava e as lágrimas abundantes escorrendo-lhe pelo rosto.
Se você está confuso, confesso que eu também. Por um deslize de minha parte e por ter me afeiçoado ao nosso amiguinho, na hora fechei os olhos e não vi bem o que aconteceu. Mas, como narrador dessa história, apesar de não poder modifica-la, pois o criador dela não me permitiu, posso voltar no tempo para rever a cena e contar a você o que exatamente aconteceu. E ficarei mais tranquilo dessa vez, pois, percebo que Zébiel estava bem, apesar de muito assustado.
Robertinho lançou o golpe e, aparentemente acertou Zébiel... bem, espere um pouco, deixe eu voltar o tempo novamente, um pouquinho mais lento, não acredito! Nosso amiguinho desviou do golpe e o brigão acertou a parede de cimento atrás e cortou a mão. Meus anos de narrador também me dizem que ele quebrou a mão.
Eu sei que não é algo bonito, ficar feliz por ver alguém se machucar, mas, confesso, que não posso deixar de sorrir. Zébiel escapou do soco com uma agilidade incrível. Uma velocidade que eu nunca havia visto antes.
Depois dessa experiência posso dizer a você que nesse momento nasceu o aventureiro canino. O que será que espera para o nosso amiguinho?

terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Aventureiro Canino – Idas e Vindas




            Você ainda está se perguntando o que mais Zébiel ainda vai descobrir? Toda vez que penso nessa história, essa pergunta me vem à cabeça.  Há outras perguntas também, mas eu as compartilharei com vocês no momento apropriado.
Todos os dias antes de ir para a escola, José Gabriel ia até o portão de sua casa com Rex logo atrás. Após fechar o portão e caminhar em direção à parada de ônibus ele olhava para trás e via seu cachorrinho em pé, na cadeira de madeira que ficava na varanda, com as patas dianteiras sobre os braços da cadeira, de forma a conseguir ver acima do muro e observar o menino indo para a escola. Zébiel sempre sorria vendo a cena. Aquecia-lhe o coração e renovava a certeza que os dois tinham uma relação muito especial.
Entretanto, dessa vez foi diferente.
- Você precisa mesmo ir, não vá, não vá! – Rex pulava nas pernas de Gabriel.
- Então era isso que você queria me dizer todos os dias?
- Não gosto quando você vai embora. Eu sinto a sua falta... – o cachorrinho fez uma cara triste, sentando no chão.
Zébiel ajoelhou-se no chão e afagou o amigo atrás das orelhas.
- Eu preciso ir, mas eu volto.
- Você volta?! ­Rex pousou as patas sobre o antebraço de Zébiel, balançando o rabo
- Volto, amigão.
Gabriel fechou o portão e começou a descer a rua. Resolveu olhar para trás, como havia feito tantas vezes. Rex estava na cadeira. Mas não estava empertigado sobre os braços da mobília. Estava deitado, olhando para o menino. O cachorrinho estava calmo com a saída do amigo, pela primeira vez.
Pois alguma coisa havia mudado.
Ele sabia que Zébiel partia, mas que ia voltar.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Aventureiro Canino – um herói, a heroína


Aventureiro Canino – um herói, a heroína.




- Gabriel, Gabri-ééél! – A mãe de Zébiel o chamou. Ele mastigava seu pão de forma desinteressada, alheio a tudo a sua volta.
- Oi? – Respondeu voltando de sua longa viagem pensativa.
- Biel, o que está acontecendo com você hoje?
- Co-comigo? – Zébiel sentiu o rosto corar.
Pelo visto você deve estar tão curioso quanto eu em saber como Zébiel vai lidar com essa novidade. Como iria dizer para os pais o que estava acontecendo? Ele tinha certeza que iriam rir e dizer que criança tinha muita criatividade. E, convenhamos, é verdade! Criança, realmente, tem muita criatividade. Mas, agora era diferente, com certeza!
E era muita coisa para uma cabecinha de 9 anos lidar sozinha. Não sei se vocês sabem, mas os adultos dizem que tem uma fase muito complicada nas nossas vidas chamada de puberdade. É difícil para os adolescentes e muito difícil para os pais. Dizem que essa fase é difícil, pois há muitas mudanças que acontecem de forma muito rápida e é meio complicado lidar com isso tudo.
Mas imagine ter que lidar ser mordido por uma pulga radioativa e, de uma hora para outra, começar a ouvir os pensamentos do seu cachorro. Não é fácil.
- Sim, meu filho, estou falando com você. Por acaso tem outra pessoa aqui olhando para o pão por mais de dez minutos? – Olhou para o pão como se finalmente percebesse a presença do alimento.
- Nada não, mãe. É que estou muito cansado – respondeu, arqueando os ombros, com aquele jeito manhoso que criança faz na presença da mãe – acho que é melhor não ir para escola hoje.
- Nada disso! Você sabe o que seu pai sempre diz.
- Sei – Zébiel entortou a boca com chateação, respondendo com voz melosa – Que minha obrigação é estudar... Mas, mãe, estudar é muito chato e hoje eu não estou me sentindo bem.
- O que você está sentindo? – ela perguntou aflita, correndo para perto dele e já pondo a mão na testa para sentir a temperatura.
- Eu conheço esse jeito dela, eu conheço. Ela está com aquele cheiro diferente, quando começa a suar muito. Sim, ela vai entupir você com aqueles líquidos de cheiro estranho e que você detesta. Como você chama mesmo? Repédio... não verdio... não... hum, já sei, remédio –Rex empurrou a cabeça contra a perna de José Gabriel para chamar sua atenção.
Zébiel ainda não havia se acostumado com a idéia de ouvir seu cachorro. Para falar a verdade, eu acho que nunca me acostumaria. Sabe-se lá o que se passa na cabeça se um cachorrinho. As vezes já é de enlouquecer ouvi-los latir sem parar, imagine passar a ouvir o que eles pensam também. De qualquer forma, dessa vez, pela primeira vez Gabriel começou a achar interessante. Rex estava certo! A mãe havia entrado no modo mãe-superprotetora-louca que não deixaria ele em paz. Faria um milhão de perguntas e ele teria que tomar mil remédios de gosto ruins.
- É que eu dormi mal – mentiu de forma inocente.
- Como assim? Teve algum pesadelo? Diz para mamãe – Envolveu o menino num abraço forte.
- Não, mãe! – Ele a afastou resoluto. Não gostava que ela o tratasse feito criança. Só quando ele se sentia muito criança – Nada não. Tenho que ir para a escola, senão vou chegar atrasado.
- Mas você não estava se sentindo mal?
- Já passou...
- Estava só querendo um carinho da mamãe, não é? – Ela sorriu e deu um beijo na bochecha dele.
- Para de me tratar feito criança, mãe. Eu já sou um rapaz – Esfregou a bochecha.
- Eu conheço esse cheiro! Ela está feliz, está sim! Igual aquele dia que você disse que o bolo que ela fez estava uma delícia. Mas estava ruim, muito ruim. O cheiro era ruim. E o gosto, não tive coragem canina o suficiente para provar. Ah, mas ela estava feliz, estava sim. Parece que as mães ficam felizes quando os filhos dizem que gostam do que elas fazem. Mas eu não entendo. Por que ela está feliz agora?
- Eu não sei – Zébiel pensou em resposta.
- Mãe, você está feliz? – perguntou inseguro.
- Sim, meu filho – respondeu sorrindo.
- Por que?
- Fico feliz de ver que você está crescendo.
Gabriel não entendeu bem a resposta. Afinal, ele sempre ouviu que estava crescendo. Se ele sempre crescia era para ela estar sempre feliz. E não era bem assim. Havia vezes que ela ficava bem brava. Até mais que o pai dele. E o pai quando ficava bravo era muito bravo!
Mas, o mais importante é que ele percebeu que Rex sabia de coisas que jamais imaginou que seu cachorrinho soubesse. Parecia que tinha um nariz mágico, com poderes que ele não conhecia. Se sentiu como se fosse um super-herói. O que mais eles ainda iriam descobrir?


segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020


Aventureiro Canino – Mudanças



   Você deve estar pensando: pobre pulguinha! Eu gostava dela... Tenho que confessar que, apesar do nosso contato breve, eu também gostava dela e sentirei saudades de seus pulinhos serelepes. Mas, confie em mim, ela está feliz no paraíso das pulguinhas. E, apesar do pouco tempo conosco, acredite, ela foi muito importante. Sem ela, não haveria o aventureiro canino e, muito menos, essa história. Então, não estaríamos aqui conversando agora.
Bem, você também deve estar se perguntando: quem era aquele menino? O que aconteceu com ele?
Ele se chamava José Gabriel, mas os coleguinhas o chamavam de Zébiel. Era uma criança muito alegre, curiosa e cheia de animação e vivia para cima e para baixo com seu fiel amigo Rex, um vira-latas fujão.
Cacareco, o galo velho da vizinhança, já cantava anunciando que o dia estava começando. Então, era hora de José Gabriel deixar de moleza e se arrumar para ir à escola. Ele estava se remexendo na cama, cheio de preguiça e de repente abriu os olhos assustado.
- Será que ele acordou? Acho-que-ele-já-acordou. Ele se mexeu. – Gabriel ouviu uma voz estranha e fechou os olhos novamente.
Quem estaria no quarto dele? Você deve concordar comigo, que, por mais que você já tenha crescido e não seja mais um bebezinho, que é de dar medo acordar com uma voz estranha, dentro do seu quarto. E olhe que Zébiel já tinha 9 anos!
Ele resolveu abrir só um pouquitinho dos olhos, mais fechados que abertos, para ver se descobria de quem era a voz. Mas, você sabe o que acontece quando se dorme muito, não é? Com os olhos cheios de remela (eca) ele não conseguia enxergar direito. Teve que arriscar e abrir os olhos completamente.
Mas não tinha ninguém no quarto. Só o Rex balançando o rabo, animado. Para falar a verdade, dizer que ele balançava o rabo não era bem a verdade. Seu entusiasmo era tão grande, que mais parecia estar dançando, remexendo o rabo e o bumbum vigorosamente.
- Ele acordou! – José Gabriel ouviu a voz novamente – Oh, puxa! Ele acordou! Ele acordou!
Zébiel esfregou os olhos? Quem estaria falando? Só havia ali ele e... o Rex!!!
Seria possível?
- Rex?
- Ele está falado comigo! Ele está falando comigo!
- Rex, você está falando? Eu não acredito!
- Eu sempre falei. Mas você não entendia. Oh puxa! Ele acordou, e agora me ENTENDE!!!!!
O que você faria se de repente começasse a ouvir o seu cachorro? Isso é algo que eu nunca me perguntei. Quanto a Rex a única coisa que ele fez foi se balançar ainda mais. O rabo chicoteando como nunca antes. Não poderia ser diferente. Imagine se você fosse um cachorrinho latidor que ninguém entende o que você fala e, de repente, o seu grande amigo começasse a entender o que você diz? É o maior dos presentes, melhor até que um grande osso para mastigar.
E quanto ao José Gabriel? Como será que ele vai lidar com essa novidade? Estou ansioso pela continuação dessa história.