domingo, 13 de fevereiro de 2011

Trajetória

Em conversa com um companheiro de estrada e fã como eu de Raphael Draccon, surgiu a idéia de fazer esse post. Segue abaixo a pergunta do Moisés e minha resposta. Abraço a todos.

Moisés:

Ae Marcos me conta mais sobre sua esperiência na escrita do seu livro...
Como foi a sensação de escrever..
De quando dá aquelas crises de q nada sai.. kkkk
De quando vc terminou..
E ainda quando procurou sua publicação.
Eu nunca conversei com um escritor de verdade... Seria uma honra saber dessa trajetória...
Moisés,
engraçado que semana passada eu vi no "aprendiz de escritor" essa discussão: quem é escritor? Para ele, nós aspirantes que escrevemos nossos textos e mostramos apenas para alguns amigos ou em blogs... todos somos escritores. Ele fala daquela visão que todos têm, e eu me incluo, de pensar que escritor é aquele que já escreveu um livro e publicou. Acho que eu ainda não posso me chamar de um "escritor de verdade", mas caminhando...
No blog eu falo um pouco como foi escrever. Gosto de criar a história. É como se fosse algo meio mágico. Digo isso porque parece que ela se faz sozinha. Eu nunca me preocupei em ter uma história completa. Tinha uma noção do que queria para a ela, mas não sabia como ia se desenrolar. Eu apenas escrevia capítulo por capítulo. Essa era minha diversão... e minha descoberta. Pois os personagens tomavam conta da história. As vezes eu pensava que seguiria um rumo, mas quando dava por mim, acabava seguindo outro totalmente diferente.
Eu já havia lido sobre isso e achava que era exagerado, mas é verdade. Como o personagem tem uma personalidade própria, quando o colocamos em determinada situação, ele age de uma forma. Outros personagens, reagem àquela ação... aí você se surpreende com o que vai surgindo.
Claro que o texto não ficava solto. Pois havia uma idéia do que eu queria para a história.
Eu vivo tendo as crises de quando nada sai. Pois tenho tendência a ser muito descritivo e complicar as coisas. Mas, com a experiência isso tem diminuído. Tem momentos que eu me coloco eu uma situação tão complicada no texto que não sei como sair dela, ou como descrevê-la. As vezes quero uma palavra que não acho e fico bloqueado tentando encontrá-la. Igual quando esquecemos alguma coisa e ficamos obsessivamente tentando lembrar. Algumas vezes eu largo o texto e vou fazer outra coisa. Houve momentos que fiquei um mês ou dois sem escrever. Assisti filmes, animes ou li livros para me dar inspiração. Quando o bloqueio era com a ação de um personagem, eu escrevia alguns capítulos com outros personagens. As vezes o desenrolar dos fatos desses outros personagens, ajudava a destravar.
Atualmente o que tenho tentado fazer é: deu o branco, tentar escrever a idéia, mesmo que não esteja boa... e seguir em frente. Na hora das inúmeras revisões, eu volto ao texto para tentar lapidá-lo ou descartá-lo. Estou tendo esse problema com um capítulo do novo livro que estou fazendo. Não estou satisfeito com ele, mas está escrito. Depois que o bloqueio com ele se resolver, retorno para olhá-lo.
Hoje em dia tenho menos esse problema de bloqueio. Antes de conseguir terminar “Peregrino” tinha começado três outros que nunca terminei, por complicar tanto a história que não sabia como dar prosseguimento. Dois desses “livros” iniciais eu acabei transformando e aproveitando parte da história nesse segundo livro que estou escrevendo: “O presente das águas”.
Como eu havia dito, eu não me preocupava com o livro todo... me divertia em escrever capítulo a capitulo. Era como se eu tivesse uma enorme escadaria a frente. Sabia que se eu olhasse o tamanho do obstáculo à frente, não teria coragem de prosseguir. Preocupava-me em dar apenas o primeiro passo. Subir degrau a degrau. Escrever capítulo por capítulo. Para mim, foi mais fácil assim. Afinal, quanta pretensão e tinha: escrever um livro. Achava que era demais para mim. Tanto que no começo eu chamava de redação. Depois fui me acostumando à idéia de estar produzindo um conto. E quando a história começou a se desenrolar, vi-me diante de um livro sendo construído. Para mim, era importante a forma como eu encarava a minha ação, pois minha autocensura não corroborava muito.
Isso foi tão verdadeiro, que quando terminei, não acreditei. Meus capítulos reunidos haviam se tornado um livro. Foi gostoso imprimi-lo e ver que... existia. Não era mais abstrato e restrito à minha cabeça... era concreto. Essa foi a maior sensação. Realização... dever cumprido.
Nesse tempo, mais ou menos do meio para o final de “Peregrino”, eu já acompanhava a coluna de Draccon no site “Sedentario & Hiperativo”. Ainda não havia lido o livro “Dragões de Éter”, mas já gostava da forma como ele escrevia. Em algumas postagens, Draccon falava um pouco sobre o mercado editorial e as dificuldades de se publicar. Quando eu lia e tentava me imaginar correndo atrás das editoras, ficava nervoso. Então tentava voltar à minha disciplina do passo a passo, degrau a degrau. Já havia salvo diversos sites que orientavam para se buscar uma editora e até a possibilidade de pagar para publicarem, mas defini só começar a procurar, depois de terminar o livro. Minha preocupação no momento deveria ser escrever.
Após concluir o livro, a primeira coisa que fiz foi enviar um exemplar para a biblioteca nacional para ser registrado. Assim eu teria garantido meus direitos autorais. Depois tentei entrar em contato com algumas editoras. Meu sonho era a Editora Rocco. Sempre sonhamos com as grandes, mas ela seria minha última tentativa. Tentei a Editora de André Vianco, mas nunca responderam às minhas mensagens. Havia também uma editora aqui em Natal que eu procuraria caso não conseguisse nenhuma por Rio ou São Paulo. Acreditava que por uma questão de mercado, seria mais interessante tentar primeiro nesses dois centros.
Consegui me corresponder com a Editora Objetiva. Foram muito solícitos e se dispuseram a avaliar minha obra sem compromisso. Pediam apenas quatro meses para avaliação. Foram quatro longos meses de ansiedade, que aguardei sem procurar mais nenhuma outra editora. Por fim, findo o prazo e sem ter tido qualquer resposta, entrei em contato com a Objetiva. Enviaram então uma carta para mim (que até hoje guardo), dizendo que a obra tinha qualidade literária, mas que não os interessava no momento e que se dispunham a avaliar futuros projetos. Fiquei com a sensação de resposta padrão e até hoje não sei se chegaram mesmo a ler meu texto.
O engraçado é que li diversos sites; Draccon mesmo havia prevenido: Não é fácil publicar. Mas a negativa, mesmo que esperada, doeu.
Fiquei desanimado. As vezes procurava tentar acreditar que haviam lido e que o que diziam era verdade: Meu texto tinha qualidade literária. Se isso fosse verdade, era uma grande editora que dizia ser bom o que eu havia escrito e não familiares e amigos. Assim, mesmo não tendo sido aceito, pelo menos eu acreditaria que julgaram ter qualidade.
Mas continuei desanimado. Eu já havia começado meu segundo projeto: “O presente das águas”. Então continuei a escrevê-lo e deixei a busca pelas editoras meio de lado. Havia tentado me corresponder com muitas, apenas uma respondera e recusara. Não tentaria a Rocco. Ela mesma é que não aceitaria. Foi então que lendo a coluna de Draccon, descobri que havia uma editora que dava oportunidade para novos autores. Eles não pediam que eu enviasse a obra pelo correio, apenas que fosse em arquivo do Word. Pediam dois meses para avaliação.
Enviei sem pretensões. Na verdade, não acreditava que fossem aceitar.
Em um mês me responderam. E aceitaram.
E em meados de abril a editora multifoco deve estar lançando meu livro. Tal qual foi quando eu escrevia e a ficha só caiu quando vi impresso, a sensação agora é a mesma. É ainda tudo muito abstrato. Acho que só vou perceber que me tornei escritor quando ver o livro, passar o dedo na capa, folhear as páginas... e ver o nome do autor... meu nome. Aí eu terei a real dimensão que o filho nasceu.
Ainda não sei como é a próxima etapa: lançamento, venda e etc. Na visita de Draccon aqui em Natal, eu esperava poder saber dele um pouco disso, mas não foi possível.
Então vou segurando um pouco a ansiedade e esperando.
E escrevendo... sempre

4 comentários:

  1. Nossa marcos... algumas dessas experiências estou passando... e me senti muito familiar com tudo o que voce relatou.
    Axo que é o que acontece com todos os novos escritores...

    Foi uma honra ter lido sua trajetória e saber assim um pouco mais do que me aguarda...

    E quando for lançar o seu livro avisa-nos... pois quero o meu autografado aposkaposkaks..
    Abraço companheiro!

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  2. Obrigado pelo apoio. O que mais encanta na internet é essa possibilidade de conhecer pessoas novas e trocar experiência.
    Apesar de ainda ser neófito nessa vida literária, o que precisar é só falar.
    Em relação ao livro, pode deixar. Assim que for confirmado o dia do lançamento eu aviso. E estou esperando o seu.

    Abraço.

    P.S. Estou esperando mais outros textos seus no seu blog.

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  3. Postei dois textos.
    Um é uma critica a esse sistema esdruxulo e maçante que a humanidade vive.
    o outro é um texto em forma de canção que eu retirei do meu livro e coloquei no blog!!!!
    Abraço!!

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  4. Vi sua seu último post. Para mim foi o melhor texto. Fiz até uma sugestão...

    http://edensaga.blogspot.com/2011/02/reino-do-coracao.html

    Depois pode apagar meu comentário.

    Abraço

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