E
assim nasceu o aventureiro canino. Foi mais ou menos isso que eu disse no nosso
último encontro. Bem, como narrador dessa história tenho o dever de dizer que
minha afirmação não foi a mais acertada. Não, se analisarmos o todo. E o que eu
quero dizer com isso tudo?
Bem, olhe para você. A sua forma
de pensar, suas emoções e até sua reação com as pessoas, não são por acaso.
Sabe aquela discussão ou briga que você já teve? Com seus pais, com um
amiguinho, e, se você for um leitor um pouco mais crescidinho, com um namorado
ou namorada? Essa briga com certeza aconteceu por um motivo: um brinquedo, uma
palavra dita, ou no caso de Zébiel, uma implicância de um brutamonte. O motivo
pode até ser bem claro, mas a forma como você irá reagir depende de muitos
fatores.
Isso tudo pode estar parecendo
complicado e, reconheço que pode ser um pouco e vou tentar não complicar...
muito. Bem, o que eu quero dizer é que a forma como você reage às situações são
influenciadas não só pelo que está acontecendo, mas também por tudo o que você
já passou. É por isso que as vezes o papai e mamãe parecem ser bastante chatos,
pegando no pé e dizendo o que você deve ou não fazer. Adultos parecem que são
especialistas em pegar no pé das crianças. Mas, na verdade, eles fazem isso
porque estão tentando ajudá-las a conseguir lidar com os problemas da melhor
forma, não só quando crianças, mas também quando elas já forem maiores.
Ainda confuso? Sabe quando a
gente está com muita vontade de mexer no celular, para jogar aquele joguinho
superbacana ou aquele vídeo no youtube; aí a mamãe diz que não, que você já
mexeu demais no celular por hoje? Então, apesar de ser muito legal mexer no
celular, existe tantas coisas a nossa volta que a gente acaba não percebendo.
Nas nossas brincadeiras quando crianças a gente desenvolve a nossa criatividade
e imaginação. Essas duas coisas são importantíssimas para ajudar a gente a
conseguir lidar com os problemas. Tem um ditado que diz que a pessoa que você
é, tem muito a ver com a pessoa que você foi e a pessoa que você será.
Você deve estar se perguntando o porquê
de eu dizer tudo isso e não começar a contar a história de uma vez. Eu
precisava lhe dizer isso. Primeiro para que você entendesse que os anos de
carinho e dedicação de Zébiel e Rex foram determinantes para expressão dos seus
poderes, para que um pudesse entender e ouvir um ao outro até em pensamento. A
história dos dois foi importante para definir como seriam esses poderes. Uma
vez com poderes, outra questão é necessária para levarmos em conta: como Zébiel
irá lidar com esses poderes?
Então, como ele irá lidar com
toda essa transformação em sua vida? Que tipo de pessoa ele será a partir de
agora? Como será o aventureiro canino? A resposta para isso tudo tem a ver com
o que conversei com você há pouco. De antemão já lhe digo que, além dos pais,
uma outra pessoa foi muito importante em fazer o José Gabriel a pessoa que ele
é, mas sobretudo em quem será o aventureiro canino... sua avó.
Você deve estar se lembrando que
já havíamos falado brevemente sobre os avós...
Pelo visto, já deve ter imaginado
para aonde Zébiel foi logo após ter terminado a aula. Não sabendo como contar aos
pais o que estava acontecendo, com medo do julgamento deles, resolveu procurar
a adulta com mais alma de criança que conhecia. Para os outros netos ela era a
vovó, a superavó, mas, para ele, além disso tudo, ela era a Dizinhas, a forma
carinhosa como ele a chamava. A avó era sua confidente. Sabe o que é isso?
Confidente é aquela pessoa com quem você se abre. A pessoa que você conta seus
segredos, seus medos. Com quem compartilha as alegrias.
A velhinha era essa pessoa. Ela
também era a pessoa que inventava as brincadeiras mais divertidas. Quem não
queria uma avó assim?
Então, assim que acabou a aula
José Gabriel foi correndo para a casa de Dizinhas. A avó atendeu a porta com o
sorriso estampado no rosto que sempre aparecia quando via seus netinhos.
- Tem netinho lindo aí? – Ela
perguntou assim que viu nosso amiguinho pela janela.
- Vó tenho um segredo muito
importante para contar – Ele falou com seriedade e ela pareceu achar divertido
a forma “adulta” do menino.
- Me conte tudinho. Mas, antes,
me diga, você avisou sua mãe que vinha para cá?
Ela realmente pensava em tudo.
Com todos os acontecimentos, ele havia esquecido de ligar e, com certeza, a mãe
ficaria preocupada e muito brava por ele não
avisar. Na certa teria ficado de castigo.
- Esqueci – disse envergonhado.
- Crianças sempre esquecem das
coisas – a velinha sorriu – mas eu também esqueço – soltou sua gargalhada
habitual, fechando a porta logo depois do menino entrar.
- Vá, ligue para sua mãe, lave as
mãos e venha almoçar. Você está com sorte hoje, pois parece que eu estava
adivinhando e fiz aquela macarronada que você tanto gosta. Seu avô já almoçou e
está cochilando. Enquanto almoça você me conta esse segredo, que estou muito
curiosa – piscou o olho direito entortando a boca. Zébiel sempre achava graça
como ela não conseguia piscar o olho sem mexer a boca e não pode deixar de
sorrir.
Você deve estar curioso para
saber como será essa conversa. Eu também, mas isso só saberemos no nosso
próximo encontro.